Sunday, October 07, 2007

curral

O trabalho não salva ninguém, que mundo mal construído, que mentira. Escolhi trabalhar apenas mais um mês, pagar umas dívidas, e depois perambular. Aí sim eu vou ter mais tempo para escrever, pescar, assistir TV, planejar a próxima fuga do Expresso da Meia-noite. Dinheiro, só para comida, água e aluguel. A gente podia planejar construir nosso próprio monastério, templo, dentro da nossa cabeça e viver como quiser. Porque se as pessoas se sentem tristes, mal, agoniadas é porque estão indo contra Deus. A bolsinha na mão da velha estava cheia de moedas que não valem nada, a vida manca depois dos anos. Se uma frase voa pelo ar, se um terrorista não entra em um avião, ele está indo contra sua natureza, o cão. Se Adolf Hitler tentasse ser um santo, um guru, acredito que mais gente morreria. O diabo será o diabo, o santo será o santo, o vagabundo será o vagabundo, o escorpião, o fogo e a vaca, o são e o doente, tem alguma coisa que encaixa na recusa de fugir da cruz, da forca e do assalto. Mas no fundo mesmo o que eu queria era não acertar na loteria e mesmo assim não precisar fazer nada. Curral de vacas, reclamar não adianta em um tempo como o nosso, e a única saída seria em um dia chuvoso parar de pensar e sair por aí, até que o templo da cabeça vire uma bússola instintiva que te guie, isso quem me disse foi o doente Z.28. Fechei a porta do quarto, dando quatro voltas no cadeado. Soldei a fechadura.
(Jorge Cardoso)

0 Comments:

Post a Comment

<< Home